Caminhava pelas ermas ruas,
a cidade dormia,
e a madrugada a acalentava.
De um lado ouvia-se o som das águas
do Rio Paraíba do Sul,
escorrendo-se em sua monotonia para o mar;
a água barrenta refletia a luz da lua
em minha face cansada.
Transpassando a ponte,
o sapatear de meus passos
descompassava o som da correnteza.
Um caminhão passava,
depois outro,
e novamente o silêncio me acompanhava.
Caminhava e não cansava,
apesar de todo o percurso já feito,
e o que ainda tinha pela frente.
Um passo,
mais outro.
Já nas ruas de meu bairro o sossego parecia ainda maior,
todas as casas dormiam.
As vezes algum cão ladrava,
então,
logo outro uivava para a lua,
e pronto,
forma-se ali uma orquestra canina;
um gato subia em um muro,
e seu mio destoava-se do noturno concerto.
Estes eram meus pequeninos companheiros,
numa noite menor ainda.
Os passos dados por mim agora,
pareciam caminhar dentro de um turbilhão de vagos pensamentos;
eu caminhava dentro de minha própria imaginação,
meu cérebro girava.
Agora sentado em meu leito também pequeno,
via os ramos do abacateiro através de minha janela,
eles pareciam querer dizer-me algo que eu não entendia;
assim como na vida as vezes,
não entendemos seu menor refrão,
o verso mais simples,
pois temos a habilidade de complicar tudo...
Minha cadela latiu,
este som me recebeu sincero e familiar,
pois naquele momento achei que ela me entendia,
porque foi latindo novamente
que ela me disse que eu não estava só.
DORMINDO.
Meu corpo cansado agora descansava sobre a cama,
meu pensamento dormia finalmente,
e meu vagar era apenas dentro do sono natural,
e normal de todas as minhas noites.
12/09/83 - Campos/RJ